O Alexandre Afonso é um amigo que ajudou a criar o Playocean.
Outrora a viver em Sines, Portugal, estava responsável por todos os conteúdos oriundos daquelas terras, até ao dia em que decidiu ir viver para a ilha de Koh Samui, Tailândia.
Trabalha pela internet onde obtém todo o rendimento necessário para ser feliz.
Não tem amarras, largou tudo.
Considerava-me mais uma ovelha num rebanho, antes de largar tudo.
Era uma pessoa stressada, nervosa, ansiosa, irritada com as circunstâncias da vida. Sentia-me uma peça defeituosa num mecanismo que não trabalha bem. Sentia que a minha felicidade dependia de fatores externos como o tempo, situação financeira ou política do país, notícias, emprego, entre outras.
Olhava ao redor e via pessoas com os mesmos sintomas que os meus. Pessoas que se queixavam porque não tinham emprego e outras que se queixavam porque tinham mas não estavam felizes com ele, pois não tinham tempo para a família nem para eles próprios. Sentia-me, simplesmente, mais um.
Antes de largar tudo tinha uma vida de stresse, receios, medos e sem sentido.
Stresse, por todos os problemas inerentes a uma vida dita normal. Receios, por andar sempre na corda bamba e nunca saber se o dinheiro chegava para pagar as contas todas. Medo da subida do preço da gasolina, dos impostos, ou de despesas surpresa com um frigorífico que se estraga, ou de uma multa de trânsito.
Imaginar continuar a trabalhar em algo que não gostava para comprar coisas para encher a casa, sem saber bem porquê, era uma obrigação.
Sentia-me parte de um rebanho que parecia comandado pelos dogmas da sociedade, e em caso de não seguires as regras e tradições és visto como maluquinho ou ovelha negra.
A minha decisão em romper com a vida que levava veio naturalmente. Foi através de uma mudança interior que o resto começou a mudar também.
Sempre ouvi dizer: Queres mudar o mundo? Muda-te a ti próprio
. Até então era apenas uma frase apelativa digna de receber um like no Facebook, ainda mais se viesse acompanhada por uma imagem bonita. Depois de realmente ter mudado interiormente, percebi que o mundo mudou à minha volta, ou melhor, a forma como eu o via.
Acredito que a forma como vemos o mundo é um reflexo da nossa mente ou do nosso estado de espírito. Mudei alguns hábitos da minha vida e cortei com tudo aquilo que me fazia sentir mal, como por exemplo ver televisão ou estar com pessoas que não me diziam nada. Passei a estar em paz no meio do caos da sociedade.
Foi com esta paz interior que decidi que o mundo à minha volta deveria reflectir melhor o meu estado interior. Se estou bem dentro, porque é que aquilo que me rodeia não pode ser do meu agrado, também!?
Tendo em conta que, devido à minha mudança interior, passei a dar mais valor a experiências e momentos do que acumular coisas, aquilo que trouxe na bagagem foi muito pouca coisa: três ou quatro t-shirts, três ou quatro calções, chinelos, documentos, computador e o meu material de KiteSurf.
Quando entrei no avião senti que estava a dar o maior passo da minha vida, senti ansiedade mas muita esperança e felicidade por me ter libertado das amarras que me prendiam a um mundo que já não era o meu.
Principalmente, por ser um país com Verão o ano todo, temperaturas acima dos 30º C, praias paradisíacas, palmeiras, gente com um modo de vida completamente diferente.
Sem dúvida, não podia estar mais satisfeito. Encontrei o estilo de vida que melhor reflete a minha personalidade actualmente. Encontrei praias onde posso estar o dia todo com águas que chegam aos 38º C.
Encontrei segurança entre as pessoas. Deixo a porta de casa aberta o dia todo, mesmo quando saio para longe. Encontrei uma flora fantástica, rodeada por verdura o ano inteiro. Encontrei pessoas de todo o mundo com o mesmo estilo de vida com quem posso partilhar experiências. Em suma, encontrei-me.
Sinto que comecei a minha vida. Comecei a ser quem eu sou, a fazer o que gosto a sentir-me bem a maior parte do tempo. Sinto-me conectado com tudo, sinto-me livre. E tudo porque acredito que estamos neste mundo para sermos felizes e só o poderemos ser fazendo aquilo que gostamos, quando gostamos.
Certamente. Depois de largar tudo a primeira vez, tudo se torna mais fácil.
Talvez a primeira vez seja a mais complicada para todos. Para mim não foi assim tão complicado, pois foi uma etapa natural do meu estado de espirito, não foi nada forçado. Foi a libertação de velhos hábitos, locais e rotinas para criar outros com os quais passei a identificar-me melhor.
Visto que passei a coleccionar momentos e não coisas, a libertação de bens acumulados é algo simples e as experiências, essas, vão connosco na memória.
Passei a ter tudo, não tendo quase nada.
Poderia dizer que me chamo Alexandre, tenho 36 anos, sou um português actualmente a viver na Tailândia, entre outras coisas, no entanto acho que isso não diz quem eu sou.
Aquilo que acho que melhor me define é uma definição geral para todos nós humanos.
Considero-me parte de um todo, um todo que envolve tudo o que existe. Parte de uma fonte de energia a quem todos pertencemos.
Apesar de um ser individual com as minhas próprias características e os meus pensamentos, sou um reflexo de algo superior a experienciar esta forma física e a retirar o maior prazer possível desta vida.
A vida começa onde a zona de conforto acaba
— banda sonora de um dos filmes que foi de certa forma um impulso para largar tudo.
Obrigado, Afonso! Um abraço.