Lançámo-nos inteiros em busca de nós próprios com a certeza absoluta do desconhecido. E essa condição bastou-nos para ir.
Tanta raiva das amarras que já o barco relinxava contra o cais por não ser descendente dos que lá ficaram. Proibidos, fechados, vivos!
O Mar não tem segunda-feira.
O Sol nasce ali e põe-se acolá. Às vezes há Lua. Outras também há mas não se vê. E enquanto escrevo a maré sobe e desce.
Preia-mar ao meio-dia em quarto crescente?!
O momento surge em Junho de 2007 num desabafo por Skype sobre o meu desconsolo em não ter ideias nenhumas… e lá vem ela: criar uma plataforma online de turismo de praia!
Debruço-me sobre a novidade, sem mapas nem horários, empolgado com a sensação de libertação.
O segredo estava em encontrar uma maneira sábia de escravizar a angústia do desconhecido e o monstro do fracasso.
Entre isto e o que aí vem houve cinco anos de empregos com patrões.
– Adeus e até nunca.
Em Fevereiro de 2012 ergo acidentalmente o projecto com a página de Facebook da Costa da Caparica. Até esse momento, o Playocean tinha sido um amor louco de Verão. Um dia… dois dias… três dias… a página da Caparica cresce, juntam-se os amigos mais curiosos, a família intriga-se sobre o tal barco que nunca saiu do cais.
É preciso entender a vida: se há um caminho a fazer, fá-lo leve, não arrastes o passado. Pouco ou nada há nesta vida quotidiana que possa ser levado daqui para diante. A experiência só nos diz quem fomos.
Em Junho entra o João com as redes sociais. Há muitos anos que o destino deu-nos a casa de férias no mesmo Algarve e com ela os dias de Verão eternos passados na praia. Todos os dias na praia…. os dias eram a praia… nem havia praia para tantos dia nem areia para tanto Mar.
Fechamos o ano com o microsite do Playocean e perto de 20 páginas de Facebook, uma para cada concelho do litoral.
A ascendência do novo ano alarga o círculo de trabalho ao Diogo com a responsabilidade dos conteúdos.
No meio da tarefa impossível de fotografar todas as praias de Portugal, a maior aliada foi a ingenuidade que nos distanciou logo de início da visão do fracasso: sem meios e sem dinheiro o sucesso estava garantido!
Aos poucos a família aproximava-se e tomava o seu devido lugar, ainda que por vezes dúbio. Ora castigava-se no medo dos presságios fatalistas, ora estendia-nos a mão para a próxima etapa.
É possível que a informática provoque esta ideia misteriosa na cabeça das pessoas — lidar com o invisível não é fácil. Mas para um povo habituado a acreditar num Deus que nunca viu deveria ser bem menos complicado. Tanta gente voltada para o Além sem entender o que está Aqui!
Junho traz-me uma noite no hospital por capricho de uma enxaqueca que já durava há seis dias. Nem imaginam o desespero que é o Garcia de Orta.
Em Julho começamos finalmente a viagem pelas praias de Portugal, primeiro de Tróia até à Praia do Queimado. Fiz a viagem de bicicleta mais espectacular da minha vida, entre Sines e Vila nova de Milfontes, largado na Praia Vasco da Gama às 10h da manhã, farnel na mochila, litros de água e máquina ao pescoço. Uns 70 quilómetros de calor e dunas entre a liberdade da natureza que nunca esquecerei!
Agosto é o mês em que fotografamos todas as praias do Algarve, de Vila Real de Santo António a Aljezur, com a ajuda preciosa da minha família. Nesta altura estamos a cerca de 500 praias do fim.
Em Setembro descemos a Serra da Arrábida e usamos a casa do Diogo no Porto para trazermos as praias do Norte ao Playocean. Nove dias a correr contra o pôr-do-sol para conseguir o máximo número de praias antes que a luz inutilizasse a objectiva. Nove dormidas de 3 horas cada… Quem consegue dormir com tanto entusiasmo?
A viagem termina com um memorável peixe grelhado na Figueira da Foz, sentados naquele areal sem fim.
Outubro é o mês das nossas casas. Cumpre-se a Costa da Caparica!
Odemira em Dezembro. Há estrangeiros idosos da Escandinávia a caminhar de ténis e mochila às costas sobre as falésias perdidas do litoral Alentejano. D-E-Z-E-M-B-R-O!!! Quem diria…. Portugal é um país com turismo de praia o ano inteiro!
Entrámos o novo ano a fotografar a Grande Lisboa (Oeiras, Cascais e Sintra). No Cabo da Roca a falésia de Assentiz é lembrada com uma quase queda e uma velha que aparece sem aparecer e que nunca desapareceu da nossa memória. No mesmo dia, descemos as suas falésias verticais cinco vezes seguidas, desde o topo até à praia.
— Pensamento positivo, aprende a desfrutar o impossível!
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Ainda com 30% das praias por fotografar, não há palavras para descrever a sensação de dever cumprido. Estamos cada vez mais perto de fazer história!
Nunca ninguém fotografou todas as praias de Portugal nem se sabe ao certo quantas existem e onde se escondem.
Em Outubro tivemos a sorte de fotografar grande parte da Estremadura a partir da casa de um grande Amigo nosso, perto da Ericeira. O Pedro é empreendedor da sua própria marca de vestuário ecológico, a OHNO Clothing, um projecto de extrema consciência ambiental.
Até ao final do ano convertemo-nos à secretária do computador. A Terça-feira é igual ao Domingo ou à Quarta-feira. O trabalho começa quando nos levantamos da cama e termina com o fechar dos olhos. Que importa o resto? Merda de corpo que só funciona a comida e cama…
A , na Praia da Foz do Lizandro fotografámos a última praia da nossa viagem e incluímos um importante capítulo na história de Portugal. A vitória foi tão secreta quanto nossa!
Encostados à falésia rochosa, as sensações falam por nós. Abrimos a garrafa, fumamos um cigarro, as palavras lançam-se à água, não há nada a dizer. Ninguém sabe o que fizemos nem como o fizemos senão nós próprios. É uma coisa da alma de cada um. Vencemo-nos!
Lembro-me de ser miúdo em cima da bicicleta, sem mãos no guiador, a descer a encosta do pinhal. Lembro-me de correr para as águas quentes do Algarve com os bolsos cheios de areia… livre… livre… livre…
Durante estes anos tentaram converter-me a tudo: horários, avaliações, ordenados, expedientes, e a uma Capital de prisioneiros na Avenida da Liberdade. Irónico, não é?
Ocorre-me, subitamente, que o Verão passou a ser eterno. Como o João e o Diogo.
Ah... fosse a Terra menos redonda e todo o Mar faria sentido, liso e vivo em perpétuos espaços infinitos.
A experiência ensinou-me que há dois tipos de pessoas no mundo: as que fazem e as que não fazem (normalmente, estas últimas também não deixam fazer). O conselho é simples, encontrem as que fazem e façam com elas, pois é assim que os sonhos se tornam vidas. Orgulho-me de ser um dos "Três do Playocean", juntamente com o Simão e o João.
As etapas para chegar ao ponto em que escrevo estas mesmas linhas não foram fáceis, mas estamos unos e mais vivos do que nunca! O caminho é claro e as correntes que nos amarram à escravatura imposta nesta vida principiam os estalos que antecedem o estilhaçar. Há que parti-las!
Vivemos numa sociedade castradora dos diferentes e onde os fiéis iguais peregrinam todo o santo dia até uma vida de tal forma vazia que faz a densidade do vácuo parecer a de um buraco negro! (Sim, eu sei que as equações tendem para infinito, mas a metáfora parece-me gentilmente apropriada). Tanta gente e tantas horas com os olhos nos faróis vermelhos do carro da frente. Quero ser sempre o tipo anónimo que vai na faixa contrária, o tal que quando estou encarcerado na manada e vejo a passar, chamo "o dos faróis amarelos".
A batuta do tempo, os horários, semanas, meses e anos...é uma linguagem inventada por guardas prisionais etéreos que governam as vidas das pessoas na forma de patrões, políticos e falsos bem intencionados. Quero ser aquele que nunca tem tempo porque na liberdade o tempo é nada e nela, não há maestros.
Quanto aos empregos (normalmente chamo-lhes "prisões com liberdade condicional") que me tentaram impingir ao longo da vida, esses, parti-os "em pregos" e as pontas aguçadas dispu-las nas camas daqueles que à força mos quiseram enxertar! A cama onde me deito nunca será de pregos. Será sempre de paz, amor e liberdade. Dou graças ao cosmos pela incerteza que neste momento banha a minha vida, sem ela, estaria completamente enterrado nas certezas dos outros! Lúcido e desaguisado do rebanho, nunca direi "vai-se andando; a vida é mesmo assim; estou mais ou menos; ter um emprego é fantástico", porque se assim for, então já terei morrido e os mortos não falam nem se preocupam com correntes. Eu sou Diogo.
Escrito por Diogo Belo
Nasci outra vez
Dei o meu primeiro mergulho no Playocean no dia , quando recebi o convite do Simão, meu amigo de muitas vidas, para fazer parte do projecto, no qual encontrei também o meu outro grande companheiro, Diogo. A minha eterna paixão pelas praias e a ligação profunda que tenho com o mar levou-me naquele preciso segundo a aceitar, e a minha vida ainda sem saber tinha começado a mudar…
Passaram-se quase 3 anos com muitos sonhos e emoções que mal cabem neste mundo, e parte do meu destino cumpriu-se... Descobri o caminho para atingir a liberdade! Sim, ser livre, quero mergulhar numa praia todos os dias, quero sol e sal no meu corpo, ser senhor de mim próprio, das minhas escolhas, senhor dos meus passos e dos meus caminhos, sem horários nem horas certas para trabalhar e ter férias, para acordar e almoçar ou para dormir e jantar. Este é o mundo perfeito e apaixonado que o Playocean me transmite todos os dias.
Como dizia o nosso bem-amado Fernando Pessoa, Senta-te ao sol, abdica e sê rei de ti próprio
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Está mesmo quase, e não querendo eu pensar em mais nada… Estou feliz!
Escrito por João Veiga